De alguma forma, sabia que aquilo era errado. Mas a este
ponto, que diferença faria? Ter pensamentos sujos em meio ao mundo de hoje não
poderia me condenar, até porque, não tornei meus desejos em realidade... Ainda.
Esta noite lembra-me tantas coisas. Ver meu reflexo manchado
em um pequeno lago horas atrás, poder ver meus lábios levemente avermelhados e
rachados, minha pele branca como a neve no chão que tanto caminhei. Dias de
caminhada com alguns amigos me trouxeram até aqui, uma caverna, um tanto
afastada de nosso acampamento improvisado.
Meu coração, que tanto julgo frio, parece estar mais quente
que meu corpo hoje. Nem mesmo minha melhor fogueira pode me esquentar
realmente.
Para ser sincera, só me encontro aqui porque desejo evita-lo
o máximo possível. Não gostaria de sentir minhas mãos tremerem, e até mesmo meu
coração sair pela minha boca ao simplesmente cruzar meus olhos azuis com
aqueles castanhos que tanto me chamam. Será que ele se sente assim depois de tudo?
Nosso romance proibido por sermos de reinos diferentes, reinos inimigos. Que
clichê. Só nos encontramos no mesmo acampamento devido à guerra mal sucedida,
onde ambos os reinos se deram mal e agora alguns foram obrigados a se juntar.
Os plebeus viraram escravos, não que antes não fossem. E eu, que carrego sangue
real, por sorte me encontro viva no meio de desconhecidos. Ele não passa de um
bastardo... Lógico que tentam esconder isso ao máximo.
- Sozinha novamente? – vejo grandes olhos castanhos cruzarem
com os meus, mãos tremendo e um coração, o meu no caso, saindo pela boca.
- Como me encontrou?
- Eu te segui. – ele riu, como se aquilo fosse normal. –
Você realmente não percebeu. Um tanto perigoso para uma dama.
Evitei demonstrar qualquer tipo de reação. Mas
automaticamente, corei e ri.
- Que diferença faria ser morta? Meu reino está afundado.
Assim como o seu. Sobrou apenas um, logicamente o que nos derrotou.
- Agora você vive para de um reino? Seja livre! – gritou
ele, como se não sofresse pelo acontecimento.
- Eu sou livre!
- Será mesmo? Eu te conheço bem, sei que odeia usar vestidos
de seda, se comportar como uma dama, e viver trancada em um castelo cheio de
guardas! Odeia se sentir presa, odeia que seu pai, seu falecido rei, brigasse
com você por você simplesmente querer andar no meio da cidade!
- Acha que me conhece mais do que eu mesma?
- Não... Só estou dizendo que... – o interrompi.
- Sabe o que eu odeio?! É você ser tão preso quanto eu e não
admitir! O fato de nosso “romance” ser proibido por nossos pais! Você realmente
acha que ser livre é isso? Poder fazer o que bem entender, mas não amar?
- Eu a amo.
Passaram-se uns segundos para eu poder compreender melhor
que ele realmente havia falado aquilo. Ver ele se aproximando de mim e... Pude
sentir o calor de sua mão tocar a minha, e a outra, me puxar levemente pela
cintura. Não conseguia tirar meus olhos dos dele. O mundo lá fora já não
existia mais, apenas eu e ele. Seu corpo
tão quente, e agora tão próximo ao meu. Era este calor que eu procurava, que
roupa alguma me proporcionou, muito menos o fogo.
Sua boca carnuda era tão aconchegante, sentir seus lábios
despejando beijos pelo meu pescoço, chegando ao encontro de nossas bocas. Seu
gosto de mel. Sua mão firme puxando meus cabelos. Nossos beijos em um ritmo tão
exato e constante. A imagem de seu corpo tão definido abraçado ao meu, me
sentia segura.
Não sei como definir o momento. Não sairia desta caverna
nunca.
Agora única coisa que restara no meu corpo era meu vestido
de seda, que tanto odeio.
- Deseja ser livre? – piscou ele abaixando as alças do meu
vestido. – Está na hora de se livrar dele.
Não via mais nada. Meu rosto cada vez mais corava e eu
tremia. Sua mão tão firme, seus movimentos tão seguros. Realmente estou
preparada?
- Se você não quiser...
- Eu esperei tanto por hoje. Não venha com isso. – respondi
com meu corpo apoiado em seu manto jogado no chão.
Mais beijos foram despejados pelo meu corpo. Logo em minha
boca.
Não diria que minha liberdade foi dada ao final dos Reinos,
ao perder a importância de carregar um nome Real. De poder viver usando roupas
confortáveis aos meus olhos ao invés de... Seda. Minha liberdade foi dada hoje,
esta noite. Assim como a dele. Quando nos tornamos um corpo. Desejo viver minha
vida por ele, e ele pela minha vida. Parece estranho, mas não me sentiria presa
com isso.
Ouvir suas doces palavras ao final de todo acontecimento me
fez bem. Vou carrega-las sempre comigo.
- Eu sou seu, e você é minha.
- Eu sou sua, e você é meu.
O começo da real história se iniciou esta noite.